"Não existem palavras de sentido igual"


Registros internos.
São Paulo, março de 2023.

"Às vezes, deixo de ver o mundo acidental que determina a minha realidade, pequenos objectos fragilmente necessários esgueiram-se num outro lugar de que desconheço a cartografia, não sei onde ponho os óculos, onde se encontra a tesoura das unhas, onde deixei a mala. E estaco subitamente. A fragilidade da beleza é uma necessidade mais premente do que a própria colher com que como a sopa; creio que nunca ortografei esta palavra premente; não tem regaço profundo, não gosto dela — seria banal num banquete de palavras; só tem realce sobre uma toalha branca. Escrevo-a sobre o torvelinho. Não existem palavras de sentido igual. Mas podemos enovelá-las — e o contraste dos sons leva-lhes o sentido para outro lugar."

Registro "Finais de Janeiro de 1994"
no Inquérito às Quatro Confidências — Diário III, de Maria Gabriela Llansol.
Relógio d'Água Editores, 1996.
Página 9.

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Criadora

Larissa Fonseca e Silva, 1998. Nascida em Caldas, no sul de Minas Gerais, crescida dentre livros e montanhas. Mestra em Teoria Literária e Crítica da Cultura pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e doutoranda em Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP). "Crio com a ponta dos dedos, no raio do sol vejo a magia da poeira e sei que há sentido no decompor das coisas pois até os resquícios dançam." Registro e guardo aqui.