O espelho da bruxa (El espejo de la bruja) | Chano Urueta | México | 1962. A ideia de um desígnio estabelecido por um ente divino e incontornável por qualquer outra força humana ou sobrenatural surge ao princípio de O espelho da bruxa, filme de terror mexicano dos anos sessenta. Dois personagens, porém ― a governanta Sara e o cirurgião Eduardo ―, encenam, cada um a seu modo, um tipo literário recorrente na literatura gótica: a figura do proscrito, aquele que desafiou os deuses. No caso de Sara, por ser uma bruxa que, conforme a visão cristã-medieval que associava a bruxaria a uma suposta maldade original da mulher (caracterização essa reaproveitada pelos gêneros do horror), serve a forças maléficas que rivalizam com Deus; Eduardo, por seu turno, performa o cientista louco que quer brincar de Deus. E quem mais sofre com esses dois artífices do destino é Déborah, recém-chegada à mansão que é palco de eventos macabros. O longa, enfim, diverte e prende a atenção pelas reviravoltas e pela ambientação ricamente decorada com simbologia, mas a ideia da rivalidade feminina (pouco ou nada questionada à época) faz com que a vingança que é fio do enredo perca sua coerência interna e, logo de início, a sua força narrativa.