A primeira dor não é o cair das asas de leite, mas o não nos nascerem outras no lugar. A vida se faz de esperanças vãs cujos vãos preenchemos com esperanças outras, seres esperantes com algumas ações, algumas maçãs. Há dias em que o tempo tem um som — não o dos sinos ou o dos relógios mecânicos, mas um ruído contínuo a serpentear em uma superfície lisa e estar à beira de pingar ao chão. A um outro chão. Há muito rememoramos quedas que já nem são nossas... Quando caem dos anjos as asas de leite estendemos nossas mãos ao céu, esperando algo como o flutuar das painas ou um enxame de aleluias, algo que vagamente imaginamos que nos sirva — a roupa velha do irmão mais velho. Mas seguem nossas mãos vazias presas a um corpo que se prende ao chão. Que se agarra ao chão. (Os anjos, já de asas renovadas, quem sabe nos tenham inveja do nosso tempo à beira do abismo.)