Há esta melancolia doce no fim de ano, o sorvete derretido ao final da casca, um cume de montanha entrevendo outra montanha maior. Antes viessem as estradas ao nosso encontro. Antes pisássemos com pantufas quentes esta frieza que nada tem a ver com o clima. A janela chama o olhar e chama as moscas, chama a aventura e o choro. Escrevo esta carta para que eu, daqui a dez anos, confira se permanece a mesma a sensação de virar um mês que vira o ano. E me lembre: os calendários são perversos como tudo o que quantifica. [São Paulo, 28 de dezembro de 2023]