Jornadas: ouvir um novo canto de pássaro, procurar o pássaro
de onde vem o canto, juntar-lhe o corpo e a alma e buscar-lhe, então, o nome de
batismo. Aumento meu catálogo de pássaros com esperanças de que isso tenha
valor noutra vida. (Nesta, é como colecionar botões.) Também são jornadas os caminhos molhados por onde pisamos com o privilégio das galochas, desbravando poças
d'água como, os portugueses, o Cabo da Boa Esperança ― que só então
ganhou esse nome, e só depois o Canto, à inversão do que eu ia dizendo sobre os
pássaros. O sol de Lisboa engana como Baco: em novembro, as ruas
gelam, mas os tantos morros e escadas não demoram a nos trazer suor à pele e então
é outra vez verão. Há muito que eu não me ponho a escrever poesia. Escorrego.
São os limos das chuvas de novembro.