O mundo seria insuportável
se as criaturas tivessem boa memória.


Esse é um pensamento que passa pela cabeça de Eugênio, protagonista do romance Olhai os lírios do campo (1938), escrito por Erico Verissimo. Mas Eugênio aprende bem: má memória não é sinônimo de má consciência. Em meio a tantos discursos de ódio e a tanta miserabilidade humana, olhar para os lados e ser útil às camadas mais vulneráveis da sociedade torna-se obrigação moral. Entretanto, se há trabalho a ser feito, há também o amor, o encantamento, a poesia, o fluxo da natureza. Daí que o idealismo da personagem Olívia, que inspira e orienta Eugênio, apresente-se como um equilíbrio entre esforço e descanso confiante. Uma harmonia entre a cigarra e as formigas da fábula. "Parece que a cigarra leu o Sermão da Montanha e quis imitar os lírios do campo."

