
Só nos conhecemos quando nos procuramos, mas só nos encontramos se há um outro que nos devolva a nossa imagem com mais ou menos nitidez. E nos encontramos ainda melhor se o outro nos estende a mão e caminha conosco pelo mistério ― lembro aqui do poema de Mário Cesariny: “Ama como a estrada começa”... Essa é uma leitura possível d’“O conto da ilha desconhecida”, de José Saramago. Repleto de símbolos, o enredo, com também múltiplas interpretações, remete ao que Walter Benjamin falou sobre a grande potência das narrativas orais (cujos resquícios estão aqui e ali nos bons contos contemporâneos): nunca se entregam. Ainda por um tempo andarei com uma ilha e um barco à cabeça.