A manhã de domingo, se chove, tardifica os ânimos e leva-nos à primeira formação do corpo, quando o percurso da água nos moldava e a alma nos vinha fácil, sem a precisão de café. Chove em julho, em pleno inverno ― estranho como uma boa vontade em plena segunda-feira. Caem de tão grande distância as gotas da garoa, tão longa travessia em busca de um chão que queriam próprio mas cujo asilo só dura o tempo da evaporação. A terra parece xenófoba por natureza — mas estrangeira também de si mesma: é o mar que aplaca as distâncias entre os continentes que um dia foram um, mas que se rejeitaram mutuamente. Bebo mais café do que deveria para aplacar a distância entre meu corpo e minha alma. Garoa manso lá fora. Quando vemos o percurso vertical da água, pensamos uma esperança temporária como a das semanas que se iniciam. [Manhã de domingo. São Paulo, 09 de julho de 2023]