Epopeia e antiepopeia: de Virgílio a Alegre, Teresa Margarida Duarte Carvalho. [Estudos de literatura portuguesa | primeira publicação: 2008, Portugal | edição lida: CARVALHO, Teresa Margarida Duarte. Epopeia e antiepopeia: de Virgílio a Alegre. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2008.] Livro fruto de uma dissertação de mestrado defendida em 2006 na Universidade de Coimbra, Epopeia e antiepopeia: de Virgílio a Alegre apresenta os polos “luz x sombra” que se manifestam desde a Eneida, modelo das epopeias modernas, chegando às antiepopeias contemporâneas, como a que vemos na poesia de Manuel Alegre. Partindo da matriz, portanto, Teresa Carvalho demonstra, a princípio, a dimensão humana e sofredora com que Virgílio pintou seu herói: “Eneias, peregrino exausto, surge, não raro, como uma espécie de negativo da imagem exaltada dos heróis da Antiguidade Clássica” (p. 123). Luís de Camões, já no Renascimento, acaba por também criar um Vasco da Gama humanizado: apesar da obediência e persistência heroicas, o personagem tem momentos de insegurança e de fraqueza, bem como características ou atitudes consideradas problemáticas dentro da crítica do próprio poeta aos homens de seu tempo. Essa crítica, aliás, já era sintomática de um império em declínio e das sombras que se entreviam no canto luminoso. A autora também aborda outros escritores da literatura portuguesa, como Almeida Garrett, Cesário Verde e Fernando Pessoa. Seu foco principal, porém, é Manuel Alegre, cuja obra é definida, no prefácio de Carlos Ascenso André, como um “paradigma da rejeição da epopeia” (p. 10) e “recusa do destino épico português” (p. 10). Apesar de tomar a estrutura e os temas de Camões como fonte de inspiração poética, Manuel Alegre, como demonstrado ao longo do estudo, deseja rasurar a história da glória portuguesa pelo viés do equívoco que foi o império, de um modo geral, e a Guerra Colonial, de modo particular.