Paisagem com mulher e mar ao fundo, Teolinda Gersão (n. 1940). [Romance português contemporâneo | primeira publicação: 1982, Portugal | minha edição: GERSÃO, Teolinda. Paisagem com mulher e mar ao fundo. Lisboa: O Jornal, 1982.] A violência da perda descrita com imensa poeticidade:
assim é Paisagem com mulher e mar ao fundo, de Teolinda Gersão.
Publicado quase uma década após a Revolução dos Cravos, o romance retoma o tema antigo da partida dos homens portugueses para o mar, mas contextualizando-o
agora no regime salazarista e na perspectiva feminina. As mudanças de foco
narrativo, especialmente entre Hortense e Clara, não são tão visíveis, como se seus limites fossem sempre apagados por essa água salgada — mar e lágrimas — que a tudo cerca. Ambas as mulheres, afinal,
ainda que pouco entendam uma da outra, compartilham a mesma saudade, a mesma
revolta, a mesma dor. Mais demarcada é a passagem do foco narrativo para Áurea, personagem mais velha e defensora ferrenha do Estado Novo. Essa passagem, porém, dura
poucas páginas e volta a Hortense, a mãe enlutada e com o nome da flor que lhe
dá, em simultâneo, a fragilidade diante do mundo e a resistência da terra diante do Senhor do Mar, Salazar.