Cortes, Almeida Faria (n. 1943). [Romance português contemporâneo | primeira publicação: 1978, Portugal | minha edição: FARIA, Almeida. Cortes. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1978.] Cortes, de Almeida Faria, se passa em um único dia: um Sábado de Aleluia de 1974, dias antes da Revolução Portuguesa. O romance, com uma linguagem poética repleta de neologismos, assonâncias e aliterações — por vezes reproduzindo a linguagem popular e, em outras, os delírios oníricos —, apresenta, em capítulos curtos, recortes da vida dos membros de uma família burguesa alentejana e de pessoas relacionadas a eles, como os empregados da fazenda. Da família, cinco são os filhos: os quatro homens em confronto com a ideologia patriarcal que os conforma a uma realidade que, se lhes concede supremacia sobre a classe dos empregados e sobre o corpo feminino, desculpando inclusive abusos, não os preenche, ainda mais em tempos de esgotamento da Guerra Colonial e pressentimento de uma grande mudança social por vir. Cada um à sua maneira — seja pelos moldes do privilégio, da religião ou da realidade laboral dura —, os homens e as mulheres da narrativa têm sua dose de consciência crítica ao Portugal de então.