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Tópicos para a leitura de Os LusíadasMaria Vitalina Leal de Matos[Estudos de literatura portuguesa | primeira publicação: 2014, Portugal | minha edição: MATOS, Maria Vitalina Leal de. Tópicos para a leitura de Os Lusíadas. Coimbra: Almedina, 2014.] Em Tópicos para a leitura de Os Lusíadas, Maria Vitalina Leal de Matos aponta as “Descobertas” (do ponto de vista eurocêntrico) como o grande impulso para Camões ter escrito seu poema maior. Esse acontecimento, marcante não só para Portugal, mas para a Europa e para o período renascentista como um todo, deu o tema do canto dos feitos gloriosos em emulação aos poetas épicos antigos, cujos personagens deveriam ser superados pelos “lusíadas”. A autora reúne, a princípio, as características gerais da epopeia conforme eram discutidas entre os intelectuais no século XVI, bem como as inovações específicas empreendidas por Camões no gênero. O livro também explora os aspectos que se revelam antiepopeicos no texto: o clima político, a decepção do poeta com o descaso de seus contemporâneos, o retrato do medo ante o desconhecido e, mesmo, o conservadorismo e apego à segurança da terra, o que se expressa bem na figura do Velho do Restelo. Maria Vitalina defende que, com os episódios tão variados que compõem a epopeia camoniana, a unidade se dá não pela ação (no sentido aristotélico), mas pelo discurso: a história de Portugal que se escolhe narrar e a missão cruzadista a ela ligada. A questão do cruzadismo intenta de igual modo um caráter universalizante ao tocar a todo o continente europeu e ao ajudar a enformar a figura do herói ideal, dentro do tom pedagógico do poema. Ainda que, hoje, essa ideologia repleta de intolerância religiosa e racial nos incomode, a pesquisadora, lembrando o cuidado com o anacronismo na leitura de obras antigas, não deixa de listar os muitos “Outros” mencionados em Os Lusíadas, para que não se caia também em simplificações grosseiras acerca de uma época. Entre os demais temas discutidos nos Tópicos estão a presença do conhecimento renascentista (experiência somada ao saber teórico), a questão da autodeterminação versus destino e a apropriação da mitologia greco-latina por Camões.

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Criadora

Larissa Fonseca e Silva, 1998. Nascida em Caldas, no sul de Minas Gerais, crescida dentre livros e montanhas. Mestra em Letras pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e doutoranda em Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP). "Crio com a ponta dos dedos, no raio do sol vejo a magia da poeira e sei que há sentido no decompor das coisas pois até os resquícios dançam." Registro e guardo aqui.