O sol mastiga os dentes, Thiago Rodrigues Batista. [Poesia brasileira contemporânea | primeira publicação: 2024, Brasil | minha edição: BATISTA, Thiago Rodrigues. O sol mastiga os dentes. Cotia: Urutau, 2024.] Em O sol mastiga os dentes, o poeta Thiago Rodrigues Batista constrói uma odisseia do cotidiano, na qual as ilhas onde se aporta ou naufraga são os detalhes em que o olhar se detém. O objetivo do trabalhador ao sair de casa é retornar a ela, mas a volta ao lar, ao invés de um destino heroico como o de Ulisses, é apenas a pausa necessária para que o labor contemporâneo recomece outra vez. Daí a imagem do móbile: o sujeito como um objeto a passar dentre estruturas urbanas e voltar incrustado de cidade e cansaço, mas também dos onirismos que preservam sua capacidade de manter-se indivíduo. Os poemas da coletânea, capturas da fugacidade, levam a voz poética a deter artisticamente o próprio tempo — a função do artista moderno, conforme, no século XIX, descrevia Baudelaire.