Capitães de Abril | Maria de Medeiros | Portugal | 2000.
Assistindo à última entrevista concedida por Salgueiro Maia, a figura mais simbólica e carismática da Revolução dos Cravos, percebemos que Maria de Medeiros se manteve muito próxima aos episódios históricos relatados pelo capitão, a quem dedica seu filme. Ao mesmo tempo, soube abordar, com maestria, as muitas vozes desse momento divisor de águas em Portugal. O que mais toca em Capitães de Abril é a nota amarga presente já no dia da queda da ditadura: a festa democrática esbarra na necessidade de se passar o poder, naquele momento, ao general Spínola, que tentaria um contragolpe de extrema-direita pouco tempo depois. Em outros momentos, é previsto que vários dos heróis daquela data esqueceriam em breve o sonho utópico e coletivo do 25 de Abril, ou que os inimigos, herdados do salazarismo, se infiltrariam nos cargos legitimados pela democracia. De todo modo, a democracia, em si, era a conquista mais do que necessária, e Salgueiro Maia, pela homenagem de Medeiros, teve preservado na arte seu imenso espaço na história portuguesa.